O caso Daniella Perez Ocorrido em 28 de dezembro 1992 - A morte da atriz Daniella Perez foi
um caso policial notório no século XX no Brasil. Ocorrido em 28
de dezembro de 1992, recebeu ampla cobertura da imprensa e causou comoção
popular.
Daniella, que era atriz e à época trabalhava na telenovela De Corpo e Alma, foi assassinada por Guilherme de Pádua, ator com quem fazia par romântico na trama, e por Paula Thomaz, esposa de Guilherme na época.
O corpo da atriz foi encontrado num
matagal, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, perfurado com
dezoito golpes fatais de punhal, que causaram choque hipovolêmico.
O caso chocou o Brasil pelos envolvidos
serem artistas muito conhecidos e que trabalhavam juntos. A primeira notícia do
caso veio a público um dia depois, em 29 de dezembro de 1992, quando foi
noticiado juntamente a outra grande notícia de repercussão nacional, a renúncia
do então Presidente da República Fernando Collor.
Os dois assassinos foram condenados por
júri popular e libertados em 1999. O caso foi listado em 2015 pelo
portal Brasil Online (BOL) e pela revista Superinteressante (2015)
ao lado de outros crimes que "chocaram" o Brasil.
Assassinato
Em 1992, a atriz Daniella Perez interpretava,
na novela De Corpo e Alma, de autoria de sua mãe Gloria Perez, a
personagem Yasmin, que se envolvia momentaneamente com o personagem Bira,
vivido pelo ator Guilherme de Pádua.
Na tarde do dia 28 de dezembro,
Daniella e Guilherme gravaram a cena do fim do romance de Yasmin e Bira. Logo
após as gravações, o ator teve uma crise de choro e procurou inquieto por
Daniella diversas vezes no camarim, o que foi presenciado por camareiras do
estúdio.
Segundo estas camareiras, ele entregou a Daniella dois bilhetes, os quais a jovem se recusou a dizer do que se tratavam, aparentando grande nervosismo.
Na polícia e na justiça, o que foi
confirmado também pelos depoimentos de Paula Thomaz, Guilherme disse que estava
nervoso, por acreditar que seu papel estava sendo reduzido na novela, uma vez
que, naquela semana, não havia aparecido em dois capítulos.
No fim da tarde, Guilherme deixou o estúdio Tycoon, na Barra da Tijuca, onde a novela era gravada, foi até seu apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, e buscou sua mulher Paula Thomaz, grávida de quatro meses.
Munidos de um lençol e um travesseiro, o casal
deixou o prédio novamente em direção aos estúdios Tycoon, onde Daniella
continuava gravando.
Chegando ao local, Paula não saiu
do carro, mas ficou deitada no banco de trás do Santana de Guilherme,
coberta com um lençol, enquanto o ator retornou ao estúdio para terminar as
gravações das suas cenas.
Por volta das 21 horas as
gravações terminaram. No estacionamento, Guilherme e Daniella tiraram fotos com
fãs e, então, Guilherme saiu dirigindo seu Santana, que foi seguido pelo
motorista das crianças com quem havia tirado as fotos. Em seguida, a atriz saiu
do estúdio dirigindo um Ford Escort.
O motorista viu quando Guilherme
parou o carro num acostamento ao lado do posto de gasolina onde Daniella parou
para abastecer o carro - confirmado pelos frentistas do posto, que preocupados
com a possibilidade de assalto, ficaram atentos ao ocupante do carro, e se
tranquilizaram ao reconhecer o ator.
Ao sair do posto, Daniella teve seu carro fechado pelo Santana de Guilherme. Os dois desceram de seus respectivos carros e Guilherme desferiu um soco no rosto da atriz, que caiu desacordada. Isso foi presenciado por dois frentistas do posto.
Guilherme então
colocou a atriz desacordada no banco de trás de seu Santana, agora dirigido por
Paula, e tomou a direção do Escort de Daniella. Da Avenida das Américas, os
carros seguiram até a Rua Cândido Portinari, uma rua deserta da Barra da
Tijuca, e pararam num terreno baldio.
Lá, Guilherme e Paula começaram a apunhalar Daniella - primeiro dentro do carro, depois num matagal próximo. A perícia comprovou que Daniella Perez foi morta com 18 estocadas que atingiram o pulmão, o coração e o pescoço.
O advogado Hugo da Silveira, que passava pelo
local do crime, achou estranho dois carros parados num local ermo e, pensando
se tratar de um assalto, anotou as placas.
Viu no Santana um homem e
"uma mulher de rosto redondo", que confirmou mais tarde tratar-se de
Paula Thomaz. O advogado dirigiu-se então à sua casa, de onde chamou a polícia.
Ao chegar ao local, a polícia só encontrou o Escort de Daniella e os documentos do carro em nome do ator Raul Gazolla, marido de Daniella.
Enquanto um dos policiais seguiu para a casa de
Raul, o outro manteve guarda no local, e para se proteger do matagal sinistro e
perigoso, o policial, mesmo armado, acha por bem resguardar-se atrás de uma
árvore, quando tropeça no corpo de Daniella.
Na delegacia, Guilherme e Paula
chegaram a consolar a mãe de Daniella e Raul Gazolla. A frieza foi tanta que
chegaram a solicitar deles que os mantivessem informados sobre o enterro e
desdobramentos do caso.
A polícia, sabendo a placa do carro, foi até os estúdios Tycoon e descobriu que o proprietário era Guilherme de Pádua, apesar de uma letra estar errada.
A placa anotada foi OM1115 e a
placa do ator na planilha do estúdio era LM1115, o que mais tarde se comprovou
que a placa do carro tinha sido adulterada com fita isolante pelo ator, de
LM1115 para OM1115, o que eliminou a alegação da defesa de crime passional.
Na manhã do dia 29 de dezembro, a polícia chegou ao apartamento de Guilherme e ele foi levado para a delegacia. Inicialmente o ator negou a autoria do crime, mas no mesmo dia, encurralado pelas provas, acabou admitindo a autoria.
Numa conversa com os policiais, Paula chegou a confessar a participação no crime, mas em depoimento negou envolvimento.
O delegado do caso chegou a ouvir um telefonema de Guilherme para
Paula, em que ele dizia que iria segurar tudo sozinho. Assim a polícia também
passou a suspeitar de Paula.
Guilherme e Paula ficaram presos definitivamente no dia 31 de dezembro. Ambos reivindicaram o direito de só falar em juízo. Ao longo dos cinco anos até o julgamento, Guilherme de Pádua testou várias versões através da imprensa.
Nenhum dos dois convenceu o júri, e
ambos foram condenados por homicídio qualificado: motivo torpe e
impossibilidade de defesa da vítima.
Telenovela De Corpo e Alma
Após o crime, Gloria Perez se afastou da novela, deixando para Gilberto Braga, Ana Maria Moretzsohn e Leonor Bassères a responsabilidade de escrever os capítulos e dar um fim aos personagens.
Após uma semana, a autora fez questão de retornar ao
trabalho, incluindo mais dois temas na trama: a morosidade da justiça e a
inadequação do código penal brasileiro.
Daniella Perez havia gravado cenas em que apareceriam na novela até o capítulo 146, no ar em 19 de janeiro de 1993, quando lhe foi feita uma homenagem pelos atores e equipe do folhetim.
A partir de 29 de dezembro de 1992, os capítulos prontos foram
editados para remover o assassino das cenas. Em virtude do acontecimento, a
trama não foi reprisada nenhuma vez no Brasil.
Iniciativa popular
A indignação popular que se seguiu a esse episódio, resultou na alteração, por iniciativa da autora Gloria Perez, da Lei de Crimes Hediondos, que conseguiu mais de 1 milhão de assinaturas: a partir daí, o homicídio qualificado (praticado por motivo torpe ou fútil, ou cometido com crueldade).
Passou a ser incluído (através da
lei 8.930/1994) na Lei dos Crimes Hediondos, que não permite pagamento de
fianças e impõe que seja cumprido um tempo maior da pena para a progressão do
regime fechado ao semiaberto (em 2006, o Supremo Tribunal Federal considerou
inconstitucional a proibição de progressão de regime)
Prisão
Na prisão, nasceu o filho de
Paula e Guilherme, Felipe, em maio de 1993. O casal se divorciou ainda na
prisão após a mudança da versão de Guilherme para o crime, ao dizer que Paula
também participou. Ambos saíram da cadeia antes, cumpriram apenas sete anos de
pena em 1999.
Motivação do crime
A versão provada no tribunal da
motivação do crime foi a apresentada pelo promotor Maurício Assayag e pelo
advogado de acusação Arthur Lavigne. De acordo com depoimento de testemunhas,
Guilherme assediou Daniella visando beneficiar-se de sua amizade, por se tratar
da "filha da autora da novela".
Ele mesmo admite isso em
depoimento ao juiz, no Tribunal do Juri. Na semana do crime, ficou inseguro ao
receber os capítulos da novela e perceber que seu personagem não estaria
presente em dois capítulos. Pensou que seu personagem estava diminuindo por
influência de Daniella.
Supondo que Daniella havia
contado à mãe das suas investidas, o ator manipulou a esposa, estimulando ainda
mais o ciúme dela, conhecida por já ser extremamente ciumenta, e com histórico
de ter agredido outras mulheres, e juntos arquitetaram o assassinato.
Arma
Desde o início das investigações,
os peritos deixaram muito claro que a arma do crime não foi uma tesoura, e sim
um punhal. O laudo da perícia (Raphael Pardellas, diretor do IML e laudo
pericial incluso no processo crime) revelou que os ferimentos que atingiram
Daniella foram feitos por instrumento perfurocortante com dois gumes.
As perfurações encontradas na blusa de malha que Daniella usava, mostram que o instrumento não entrou esgarçando, como uma tesoura entraria, mas cortando, como uma lâmina de dois gumes pode fazer.
A tesoura, para ser considerada perfurocortante terá que ser
acionada aberta, o que, sem dúvida, acarretaria, além de um número variado de
lesões muito superficiais, outras que se restringiriam à epiderme, o que não
aconteceu. Os golpes foram precisos e atingiram 8 vezes o coração de Daniella.
Outra evidencia que desmente a
manobra: apunhalar alguém com uma tesoura aberta provoca inevitavelmente
ferimentos na mão de quem apunhala, porque a pessoa teria que agarrar o gume
para efetuar os golpes, nem Paula Thomaz nem Guilherme de Pádua tinham qualquer
ferimento nas mãos.
A tesoura foi inventada para escamotear a premeditação. Estaria no carro para que Paula Thomaz abrisse sacos de leite. De acordo com essa versão, Paula Thomaz estava sempre tomando leite, mesmo dentro do carro, nos trajetos cotidianos. Por isso precisava ter sempre uma tesoura à mão.
Porém, as pessoas que conviveram com ela, nunca a viram tomando
leite e depois do crime não há registros de que o tenha feito.
A premeditação ficou comprovada pela presença de Paula Thomaz escondida num lençol, a adulteração perfeita da placa do carro do casal, e a emboscada no posto de gasolina, presenciada pelos frentistas.
Complementou-se com a dissimulação: o casal de criminosos indo
prestar condolências à família da vítima. Uma das motivações do crime
teria sido um ritual de magia negra. Os indícios estão listados no site Daniella
Perez.
Série
O
serviço de vídeo sob demanda, HBO Max, operado pela empresa Warner Bros,
divulgou o trailer e a data de estreia da série documental " Pacto Brutal:
O Assassinato de Daniella Perez", em oito episódios, que irá retratar os
fatos ocorridos na época, com depoimentos da mãe Gloria Peres, do viúvo Raul
Gazolla, de amigos e colegas da atriz. Com direção de Tatiana Issa e Guto
Barra, a série estreou em 21 de julho de 2022.



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